quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Temos pena, mas a antiguidade não é um posto

Ha quem diga que temos mentes perfeitas, que nos enlevamos em verdades, mas não passam de maleitas;mentiras, mal formadas, mal pensadas, de quem pouco sabe e que julgam declama-las. Amiga, tu que defendes o exorcismo, vai mas é para a cova da moura ver onde ancontece o vandalismo;Realidades, as quais tu que te pensas tanto não chegas nem perto, pois, como certo, repara,que o mérito não é um mito, e eu defendo muito mais que tu aquilo em que acredito.Temos pena... gente como tu, caprichosa, doente, obcecada, demente, que enche a boca, para citar discursos já construídos,não têm originalidade nem para os mais convencionais motivos.Tu que temes a ira de Deus, não penses que o confessares-te uma vez por semana te distância muito dos ateus;ou melhor, peço desculpa pelo delito, eles em verdade cometem o pecado mas não fazem disso um mito, enquanto que tu segues a Bíblia mas nem sabes o que lá está escrito; em mentira mostras uma crença que não te corre nas veias, vais enredando, com a retórica que usas, ignorantes como moscas nas teias,mas, miuda, tem cuidado com as palavras, não te distraias, olha que Deus não dorme e qualquer dia todas as tuas atitudes caem-te em cima como granadas.E querida, ouve isto com atenção, Deus não é uma conveniência que se chama em oração;Repara, é muito mais que isso, não se herda como uma terra, sente-se cá dentro como se fruto de um feitiço;é puro, é a essencia de tudo, uma fortaleza dentro de nós e que nos protege como um muro.É um estado de alma, um modo de estar na vida, o conceito de perfeição, a única obra de arte verdadeiramente evoluída;Não é uma musa, um qualquer tipo de inspiração, que gente como tu usa de um modo vão;Isso é errado, é pecado querida, e se continuas desse forma, nem o diabo te vai dar guarida.

Regresso

Talvez deva de regressar às origens. Lembrar-me do que era para perceber o que sou agora e seguir em frente. Mas esta tristeza enorme não me esclarece. Este constante regresso que me faz cair cada vez mais fundo num abismo que não construí. Tive azar com a minha natureza. Este elo entre mim e a escuridão, que não passa. Eu movo-me. Gesticulo e corro para longe de mim, tanto quanto posso. Mas a minha sombra persegue-me. A minha alma sussurra-me ao ouvido os gritos que lhe sufoco nestas noites longas e claras em entendimento. Em que nada mais me ocorre que a realidade que sou, esta verdade que represento, e aflige-me. Aflige-me esta constante tentativa de fuga falhada. Em que o mal é mais pesado e denso, e abafa o que há de bom, contamina e mata, como uma droga leve que vai crescendo à medida que nos vamos viciando e querendo mais e mais. O ser humano não se contenta com pouco, independentemente da sua qualidade. Banalizamos as coisas ao ponto de deixaram de ter significado. Este sabor a morte que me está impregnado nos lábios, não sei se o escolhi, mas talvez o tenha alimentado.

Contingência

Às vezes só queria perceber certas coisas. Essas situações que não são exactas, que as pessoas cometem em série para não terem de pensar muito acerca delas próprias. Falta-nos virtude. Falta-nos o ser genuino, o sermos nós próprios, sempre, perante toda e qualquer situação, toda e qualquer pessoa. Mas somos cobardes. Facilitamos gratuita e continuamente o carecer do que mais devia ser nosso, humanidade. Custa-me este ser fortuito, este periodo de latencia obrigatório para tudo o que vale a pena, que nos condena, que se enclausura em si mesmo e perde de imediato o sentido. Apenas porque é convencional, tornou-se obrigatório como uma lei, aceite por uma população ignorante, gente que perdeu os ideáis, um povo que um dia de um modo individual foi pessoa.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Leva-me. Leva-me para longe daqui. Limpa estas folhas mortas agarradas ao meu corpo. Estes defuntos que se alimentam da minha alma e não me deixam ir. Abala por favor o meu mundo; faz-me renascer neste mesmo corpo, ou noutro qualquer. Abraça a minha alma e dá-lhe vida. Preenche este vazio que me escorre nas veias, que o coração bombeia e eu já não consigo evitar o seu cansaço, que me consome, que me grita aos ouvidos e implora que lhe dê descanso. Ah... como cessar este circulo vicioso que se apodera de mim? Este sempre regressar às origens, esta vertigem que tenho em cada passo que dou e me agarra, como uma teia, a esses vultos que me abraçam, que me sussuram aos ouvidos coisas que ainda não esqueci, que abrem as gavetas da minha alma e me torturam com a convicção de que ainda não morri.

Tira-me, por favor... tira-me daqui.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Talvez deva limitar-me a escrever. A morrer lentamente à medida que a mina da lapiseira se vai gastando, metamorfose decadente: são só palavras. É só aquilo que eu penso que sinto, a minha alma rebatida sobre o plano negro da gramática e tudo se confunde. Talvez eu tenha parado no tempo e não consiga distinguir coisa alguma desta vida que me pisa e esmaga – ter-me-ei eu posto debaixo dos seus pés? Sinto-me sozinha. Por pessoas que me rodeiem, por pessoas que se digam comigo e que me amem… onde estão elas? Onde estão, no rebentar das fechaduras que cerram os baús em que escondo a loucura? Eu quero calá-la… Enrolo-me, abraço os meus joelhos e baloiço no sentido da maré que se afasta. Tento escapar ao desespero com a instabilidade dos movimentos, dos gestos – ou não será já este o sinal da sua presença no mais fundo de mim? Exteriorizo a minha verdadeira dimensão – celular – e, invisível, a dor envolve-me com o seu manto de fogo e queima-me a alma, cujos gritos sufoco, parto aos bocados e desfaço em murmúrios. Abandono o corpo, tento cessar este contrato que não foi assinado por mim – rasgo-o. Mas prende-me a respiração, prende-me o tacto. O desejo do corpo que não me queres vender – mas eu compro-o, vou esfolar-me para to retirar. Não és pior do que eu, que sugo e mato. Dessa morte que me ensinaste a soletrar e eu canto-a, em silêncio, todos os dias. Fizeste-me existir e sou eu o sofisma, nesta linha em que me empurras e, a tropeçar, esbarro nos outros. Mas libertar o meu corpo a favor da eternidade será a minha vingança contra ti: tu, vida, que me mataste e matas continuamente ao fazer-me renascer na boca dos outros; e ao neles penetrares, através de mim, tua cúmplice, oh criminosa, o seu assassinato.